O luto na Medicina Veterinária

Por Andréa Barboza

O luto pode ser descrito como “um conjunto de reações a uma perda significativa” ou como “dor emocional de ter perdido algo ou alguém significativo de nossas vidas”. Na sociedade, o luto é relacionado à morte, mas este processo pode ser desencadeado frente a vários tipos de perdas, como a perda de um trabalho, um divórcio,  da rotina, etc. O luto diante à ruptura de um vínculo é natural. Mesmo sendo doloroso, precisa ser vivenciado integralmente para ser saudável.

 
Existem lutos “não reconhecidos” e “não autorizados”. Luto não reconhecido ocorre quando este não pode ser expresso ou quando não é socialmente reconhecido. Neste caso, a sociedade inibe o luto devido a “normas”, explicitas ou implícitas, que dizem quem, quando, por quem, onde e como se enlutar.  O luto não autorizado acontece quando o enlutado não permite a expressão do seu próprio luto, pois este não é reconhecido e/ou não há acolhimento para a sua dor.


O luto pelo animal de estimação pode se encaixar nestes dois tipos de luto. E, como dito anteriormente,  o luto precisa ser vivenciado integralmente para ser saudável.  Se não for vivenciado pode tornar-se um “luto complicado” ou gerar manifestações psicossomáticas.


O reconhecimento do luto dos clientes pelo médico-veterinário é importante para validação deste sofrimento e para propiciar um luto saudável para estas pessoas. Daí a importância de se conhecer as reações frente à morte do animal. As  reações que podem  estar presentes são: entorpecimento,  ansiedade pela separação, culpa, raiva/protesto e depressão/tristeza. Estas reações não devem ser pensadas como fases, com ordem de manifestação e não é obrigatória a ocorrência de todas. A partir do momento em que se compreende estas reações, fica mais fácil lidar com os responsáveis pelo animal.


Além disto, o médico-veterinário também pode vivenciar o luto pela perda de seus pacientes e o não reconhecimento deste e/ou a não autorização para vivenciá-lo traz  consequências para a saúde emocional deste profissional.


A partir da dificuldade de lidar com estas e outras questões relacionadas à morte e ao sofrimento emocional do médico-veterinário, formou-se o TanatoVet, que, atualmente, é formado por quatro médicos-veterinários e uma psicóloga especializada em luto. Após dois anos desenvolvendo conhecimento na área de Tanatologia, em 2017, o TanatoVet iniciou atividades com o objetivo de dar apoio a enlutados por animais, de capacitar os médicos-veterinários e de divulgar o papel do médico-veterinário na saúde mental dos responsáveis por animais. Dentre estas atividades destacam-se:

 
* Grupos de Apoio a Enlutados Pet;

* Grupo  de Descompressão para médicos-veterinários;

* Participação na II Jornada sobre Luto do Instituto Entrelaços;

* Palestras em universidades para graduandos de Medicina Veterinária;

* Participação  no II Congresso Luso- Brasileiro Sobre  o Luto e I Congresso Brasileiro Sobre o Luto (julho 2019 em SP);

*Desenvolvimento de ferramenta para facilitar a comunicação dos médicos-veterinários com os clientes a respeito dos cuidados de fim de vida de seus animais (lançamento em breve);

* Realização do Simpósio TanatoVet: morte, luto e comunicação de más notícias na Medicina  Veterinária, em 24/08/2019.



O luto pela perda do animal deve ser respeitado e compreendido. A compreensão do luto e seus processos traz segurança e tranquilidade ao medico-veterinário.

Para conhecer um pouco mais sobre o trabalho do TanatoVet, envie e-mail para tanatovet@gmail.com.

Andréa Rodrigues D’Almeida Barboza – Médica-veterinária graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Pós-graduada em Clínica Médica de Pequenos Animais e em Etologia Clínica. Realizou curso em Tanatologia pela PUC-Rio e em Aconselhamento em Luto pelo Instituto Entrelaços. Atua em clínica médica de pequenos animais e clínica do comportamento animal. É professora no curso de Medicina Veterinária do Centro Univeritas. É membro do TanatoVet e facilitadora do Projeto Sobre(o)Viver do CRMV-RJ.


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